O Lado oposto



Todo mundo, um dia, um segundo, se torna o oposto, escuta o lado oposto. Se joga no abismo, depois não sabe voltar.

04:30hs da manhã, sandália nas mãos, maquiagem borrada, vestido curto suado na volta pra casa e só um pensamento, só um desejo: "que tudo fosse diferente".

Eu tava cansada dos conselhos, as "formulas mágicas" das pessoas e do meu jeito errado. Não é que eu não saiba o que quero, é por saber demais que tudo se confunde. Fiquei comparando os jeitos, os sorrisos, se abriu ou não a porta do carro, o jeito da me sufocar com as coisas que eu gostava de ouvir, se os beijos faziam esquecer o certo e o errado. Eu comparava e todas as comparações me levavam direto aos braços frios da frustação, e lembro das palavras duras de Mariana dizendo que desse jeito eu morreria sozinha. Dane-se Mariana e seus conselhos! Eu não sou a Mariana. Quem ela pensa que é pra me dizer o que tenho que fazer?
Agora eu queria o meu lado oposto, tudo mundo tem um. Qualquer coisa em que pudesse me esconder, ser menos eu, menos sentimento, ser menos verdade.
Festas, musicas altas, beijos com gosto amargo de alcool de gente que nem lembro o rosto, muito menos o nome. Ali no meio da multidão eu me sentia menos eu, um tipo de droga que entorpece, não te deixa sentir. Me sentia meio suja, menos digna. Com tantas mão que me tocavam, por onde andava a sua? Eu bebia pra esquecer, dançava pra esquecer, dormia pra esquecer, usava as pessoas pra te esquecer e esquecer tudo o que você trazia. E quanto mais eu tentava, menos conseguia.
Eu nunca tive ninguém pra me fazer parar, só a Mariana perdia tempo comigo. E tudo que ela falava fica ecoando na minha mente mas não mudava os fatos.
O vázio latejava, me fazendo gritar em silêncio. Eu me perguntava em que parte do caminho a gente se perdeu. Tentando chegar em casa, eu pensava se nós nos permitimos viver de verdade a nossa história. E lembro que não. Fico me perguntando como seria se a gente tivesse arriscado. Não houve tempo pra conhecer, pra pensar, era pouco tempo e muita vontade. Foi amor antes de ser.

Mariana sentou do meu lado na cama e disse: " Eu não entendo porque você anula principios e segue impulsos. Tem toda a disposição do mundo pra seguir o errado, quando é pra tentar o certo você foge. Um vício de querer sentir, de fazer, de só querer o que não se pode ter. Fantasia demais e acaba ai sozinha. Tão forte pra fazer o errado, tão fraca pra seguir o certo. Deixa alguém te amar, se deixa conquistar. Para de afastar as pessoas de você, a vida é mais que o seu mundo. E me perguntou em um suspiro triste: "O que você quer da vida?"

Foi quando eu disse: "Eu olho pra você e me pergunto se saberia viver assim. Eu quero mais, quero a tormenta que a ausência dele traz e a paz que a presença provoca. Quero mais que tentar amar alguém. Eu quero ser dele com todas as minhas intensidades com o melhor e o pior de mim. Quero a paz que ele me prometeu. Quero exterminar o silêncio dele! Eu não quero um amor ameno, insosso!"

Eu tentei amar o que todo mundo amaria e não consegui. Eu juro que tentei, mas existe algo que me espera que não me permite viver outra coisa. Eu não sei explicar, só sei que é isso.
Mariana não entende, não aceita mas fica. Fica do meu lado ainda que eu me lance na cova dos leões. Me olho no espelho percebo que nossos traços são idênticos e nossas personalidades o oposto. Ela é meu lado seguro, racional, coerente. Ela sou eu que fez tudo certo. Eu sou um erro, uma contradição.

Enquanto eu tomava banho deixava a água escorrer pra ver se limpava alguma coisa, algum pensamento, alguma culpa, algum detalhe perdido que me faria trazer você e me trazer de volta pra nunca mais me perder.


Kaká.

1 comentários:

Alan Brum disse...

Não é só Mariana que 'perde' tempo com você. Eu também faço isso, com maior prazer. Beijo.