Destinos




"E Allah criou o tempo, o tempo que constrói e destrói todas as coisas. A sucessão dos dias e das noites onde Allah escreve com sua própria caligrafia a história dos humanos. O tempo que nos faz nascer de Allah e que nos leva de volta pra Ele. É no tempo que a vida se renova e almas cumprem o destino que vieram cumprir.
Todo mundo sabe alguma coisa do tempo mas ninguém sabe ao certo o que ele significa, nem vai saber nunca porque o tempo é um mistério. E só Allah sabe de todos os mistérios. Ele desenha o caminho de nossas vidas com seu pincel e pendura no pescoço o destino de cada um e só Ele sabe o porque de todos os destinos..."




De repente era necessário trocar as palavras fortes pelas suaves, vi a necessidade em mim de redenção. Tanta coisa dura guardada de repente necessitava de liberdade pra voar. Foi então que entendi que talvez todas as coisas tristes e injustas me levaram a ser quem sou e percorrer o caminho que percorri. Eu poderia ter tido um caminho mais fácil, mas será que era esse o caminho que eu precisava? Talvez eu nunca tenha essa resposta.
EU decidi abandonar tudo lá trás. Aos 19 anos, depois de tanta traição e coisas tão sujas, me quebrei por inteira pra nascer de novo. Só ontem no teu carro eu entendi que precisava disso pra dar espaço pras assas nascerem... Meu destino teria sido outro. Acredito que nada nessa vida seja um mero acaso, Alláh Maktub!
Já não lamento o que não foi, agradeço o que é, o que virá. Quero cumprir meu destino, ainda que eu não saiba exatamente qual é. Mas talvez, eu tenha precisado chegar até aqui pra finalmente perdoar. Talvez minha ida tenha sido pra ver os riscos de ter asas e assumir os riscos de ser livre. Voltar, talvez, tenha sido pra aprender a curar as feridas das quedas. A prender a me perdoar por escolhas.
Ontem me perguntaram se eu me arrependia de ter amado e se eu teria feito algo diferente. Nesse momento pensei em todos, desde o meu pai, até meus amigos, você e o ultimo. Todos que amei com devoção e enfiaram um punhal bem no peito. E enfim, percebi que não. Assumo as escolhas que fiz. Decidi amar e mergulhar sem me importar com o tamanho do precipício. Nunca me importei em passar desertos, me dar por inteira. Só hoje entendi que no fundo, cada vez que eu morria renascia. Sempre dancei no deserto... Não me arrependo e não faria nada diferente. Cada uma dessas escolhas me mostraram quem sou. Vou renascer a cada morte, enfrento meus desertos. Vou voar sobre todos o meus precipícios. Vou nadar sobre meus rios de lágrimas, sorrir para as minhas miragens. Não fujo do meu destino. 
Quero abraça-lo e segui-lo aonde quer que ele me leve.

Kana Matuben!


Ninguém sabe o que tem até perder

Rio de Janeiro, 28 de outubro de 2015.



"Ninguém sabe o que tem até perder..."





Sempre fui muito extremista, ou te dou todo amor do mundo ou nada. Nenhum sentimento, nem raiva, nem qualquer esboço de emoção. Ou sofro a ponto de querer morrer ou é indiferente. Apático, nem um arranhado superficial.
Duas histórias em épocas diferentes com o mesmo final.
Ele, implorou uma conversa, um último abraço, relutei, acho sempre desnecessário olhar pra qualquer coisa que te remeta uma dor passada. Sempre fui daquelas que somem. Água de cachoeira que não volta. Mas resolvi ouvir, até agora não sei o que você queria, aquela ansiedade, olhos molhados ainda que não permitisse as lágrimas. Mas ainda não sei se acredito no teu sentimento, seu remorso, sua culpa. Nem quero que tenha. Água de cachoeira bate com força nas pedras, se parte, se corta até acalmar e virar riacho. Essa história virou riacho, virou água parada. Água que não retorna a nascente.
Foram muitas traições, muita coisa suja jogada em mim. Paguei pela inocência de acreditar em um amor que superaria tudo. Que o final feliz viria. Ele não veio. E você diz que eu pareço vencedora, que sou maior que tudo isso, que não deveria ir embora. Não sou vencedora, ninguém ganha nada com a traição. Talvez, apenas cicatrizes. Mas a vida, embora impiedosa, te ajuda a levantar, me fez o favor de a cada morte, ressuscitar inteira, pronta pra todos os caminhos que ela me dará.

Sem mágoa, sem rancor. Hoje preciso ser riacho, renovar as águas, silenciar outras perdas, pra ser cascata no momento ser e me partir de novo. É meu ciclo, minha vida. 
Durante esses 9 meses fora, vivi muita coisa, me afastei do mundo, me afastei de mim mesma. Pra descobrir que sou maior, mais forte e capaz do que eu mesma imaginava. Sou capaz de amar com toda a devoção e isso não depende de ninguém. Eu voltei e ponho livre pra aquilo que o destino me mandar. Que venham os caminhos, as viagens. 
É preciso coragem pra ser livre. Coragem e liberdade regem minha vida. Isso partiu minha alma mas ela se renova, se reconstrói.
Sobre a maioria das pessoas só valorizarem o que já tiveram, eu aprendi a valorizar o que tô tendo agora. A paz de estar perto de quem eu amo e sem o peso do mundo nas costas. Tô aprendendo a acalmar as minhas águas. Mas não é fácil. Não é simples, mas minha vida nunca foi simples.

Os dois amores da minha vida me traíram, me partiram, me quebraram, e voltam dizendo o quanto se arrependeram. Não consigo gostar disso. Lamento. Mas águas passadas não fazem caminho de regresso. A parte que fui, que quebrou, nasceu de novo. Com cicatrizes mas sem o dna do passado. Pronta pro presente. Desejando o futuro.

Que o destino me dê as mãos e me conduza pra onde ele deseja me levar. Eu fechei os olhos e saltei do abismo, não me importam as quedas. Só voa quem se permite voa. Cortei as raízes e deixei crescer as asas.


Maktub.

Meu beijo, Kaká
"O certo é que dancei sem querer dançar e agora já nem sei qual é o meu lugar.
Dia e noite sem parar eu procurei sem encontrar a palavra certa, a hora certa de voltar...
A porta aberta, a hora certa de chegar..."


Nove dias fora de casa, fora do país e sinto como se fosse anos. Quantos dias vive nesse dias?!
Eu quis voltar e voltei. Voltei porque queria respostas, queria enfrentar meus demônios. Voltei porque tinha medo, tinha coragem, tinha dúvidas.
Você me viu e me abraçou, quis logo conversar, contar seus segredos, suas desculpas. Logo me invadiu com a presença mais doce e mais temida. Será que meus olhos estavam mesmo abertos?! Não te tirei do meu sonho?! Não te materializei?! Era entao o homem que eu ama! Eram seus olhos negros, sua voz grossa. Era a sua mão em volta da minha coxa! Eu te disse não! Quantas vezes não naquela noite e você não me escutou. Me perdi entre tua boca quente, tua pele macia macia, tua peito, tua voz, teu gosto.
Por alguns instantes era você, era de novo o homem que eu amava. Era a vontade de nunca voltar. De ficar ali presa no teu corpo pra sempre. Era o teu gosto que eu queria sentir por toda a vida. Porque você mentiu?! Porque mudou?!
Te ter e te perder, ter que esquecer. Me diz como?! Me explica!
A verdade é que você escolhe ser a parte suja, fria, doente, que ainda sim consigo amar. Mas você escolheu outra, a parte mais fraca, mas consentida, a parte que te permite tudo, que não te questiona. Não te enfrenta! Você tem medo de mim porque o medo me impulsiona. Me faz querer ir até o fim, ainda que isso me mate! E de novo quase me matou, mas não permito! Me envergo mas não quebro, me fortaleço! Fico aqui até o fim!
Tua verdade é mentirosa, tuas escolhas de ser o peor é o medo de ser a melhor coisa que eu podia ser.
Hoje eu fico, amanhã também, mas a minha hora de partir não tarde! Vou voltar pra minha vida ainda mais forte, te prometo! E livre porque te ver me liberta de mim mesma! Ver a verdade de seus atos falhos me lembram que eu te amo, vou amar pra sempre, mas que não posso te ter!
Não era o fim, eram paginas em branco. Era o vazio.
Agora é a verdade, é a presença, é o fim.

Maktub!

Nossos destinos se encontraram para se perderem.

Desequilibrio



Durante os últimos dias as coisas estavam fora do meu controle. Não sei se você vai me entender quando eu disser que isso pra mim é quase um ataque terrorista aqui no meu peito. 
Fui criada de uma maneira que eu precisasse pedir permissão ao mundo pra qualquer passo. Eu sempre quis aprovação, fazer alguma coisa certa já que desde o início tudo sempre foi errado... Me lembro de poucas vezes ter perdido o controle e fazer algo por mim. Algo meu, sem aprovação, sem explicações e justificativas. Me lembro de ter entrado dentro daquele avião e me sentir tão viva, tão minha. Esses dias tem sido tempestivos,turbulentos.
Foi quando acordei em meio a tempestade e lá estava um bilhete seu, que dizia coisas que me deixavam tão confusas, tão mais fora da minha muralha, da minha falsa proteção. Quem foi mesmo que me disse que meu único inimigo era eu mesma? Quase ouvi sua voz enquanto lia e tudo ao meu redor desmoronava. O lugar que era meu já não era mais. A falsa paz que me rondava me deixou, fugiu. Todos os lugares dentro de mim estavam irreconhecíveis, fora do lugar. Ou será que eu não enxergava a verdade? a minha fantasiosa e doente mania de me proteger, eu me destruía, me máscara, me tornava vítima de mim mesma. Eu sou meu próprio perigo.
Cada palavra sua destruía aquilo que demorei anos pra construir, meu castelo de pedras, silêncio e dor. Sempre me conformei com o silêncio, acho que aprendi a doma-lo e aceitar sem exitar, engolindo a seco a minha própria mão sobre a boca. Foi isso que aprendi, mas isso não é quem sou.
Quando terminei de ler não sabia se ria, chorava, se me desesperava, pela primeira vez foi um silêncio diferente, um silêncio em busca de me ouvir, de ouvir Deus, um momento de agradecer ainda que não soubesse nem o porquê. Que bom que tudo está fora do lugar e que finalmente posso começar a me arrumar. A me doer por inteira até florir. Até ser uma paz de verdade. 
Não posso afirmar que tenho o controle, acho que estou sobre o descontrole, desequilíbrio, pra quem sabe me equilibrar. Tá doendo, mas pra toda a dor há cura!
Solto os lemes do meu destino, sem fazer tempestade, mas tentando mostrar o que quero de cada mar. Se o barco vai afundar eu não sei, mas pelo menos vou me permitir conhecer a mim mesma. Perdoar cada erro meu e ser livre de mim mesma.
Que venham as tempestades, o mar agitado e bagunça que vem pra arrumar.



Meu beijo, Kaká. 




A casa amarela


Rio de Janeiro, 12 de setembro de 2013.

Sei que vai parecer estranho mas precisava escrever sobre a casa amarela. Já faz alguns anos e eu sonhava com ela. Aquela casa tão minha, hoje eu descubro que é tão sua... Como entender? Como sonhar com um lugar que nunca conhecemos? Como se sentir tão a vontade em um lugar estranho? Só sei dizer que quando entrei na tua rua quase ouvi os risos de crianças brincando, meus passos, os carros passando por aquela rua que de alguma maneira foi minha. Memórias de coisas que nunca vivi.
Queria te dizer também o quanto fui covarde. É isso mesmo, eu fui covarde sim, me voltei pra dentro do meu próprio orgulho, eu me fechei. Cobrei a mim suas respostas, violentei minha própria vontade, te marginalizei dentro de memórias que te queriam intactas. Eu quis voltar e não tive coragem, tive vergonha da minha vontade porque os outros me diziam que eu deveria ter. E quando cheguei, pesada com as malas, com meu próprio veneno escorrendo pelo meu sangue, eu sentia meu corpo doer. A porta do teu no fim da escada, a tua porta trancada lembrava como eu deveria ser, o que eu queria ser. Me lembrava o que fomos. Por dias fui meu tormento, me dilacerei... vi tua recordação pela casa, minha recordação guardada e de alguma maneira ela não foi esquecida.
Eu olhava a parede do quarto, aquela parede amarela que me separava do teu quarto e que me cortava ao meio e me fazia ser sã de novo. Talvez seja preciso aprender a enfrentar os próprios demônios pra se curar.  É... eu to tentando manter o controle, tomando meus remédios pra que aquela mão não me sufoque mais... Eu to tentando, eu juro.
Eu precisa pegar aquele avião de novo pra me encontrar, pra entender que não importa os motivos, não importam as respostas, o que realmente importa é a decisão que ficou. Do que adiantaria saber o que significa a casa amarela? O que mudaria saber porque nunca mais ouvi a tons da tua voz? não mudaria nada. Você seguiu seu caminho, escolheu outro corpo do teu lado que não é o meu. Escolheu outro abrigo, outro ponto seguro, outra paz... não importa o que sentiu ou o que sente. Eu não sou parte dos teus motivos, nem das tuas escolhas.
E quando você foi, deixei de ser paz 
pra virar meu tormento. 
Talvez eu volte, talvez não, mas vou voltar a ser paz. Vou esquecer um pouco as cores da tua luz. Sei que você me entenderia se lê-se, pena que minhas palavras tão confusas já não confundem você...
Pensei em todas as coisas loucas que já quis dizer e acho que a mais verdadeira delas é que pode ser que eu nunca te esqueça. Pode ser que eu continue lembrando de você a cada dia. Dando um sorriso bobo vendo seu sorriso, sentindo aquele ciúme e inveja de quem  pode te fazer feliz, eu não pude. Mas eu vou batalhar pra me curar, pra encontrar a minha paz, a paz de ser sozinha. Porque pra ser junto tem que ser são... Quem sabe eu encontre outra pessoa, quem sabe não, quem sabe quais caminhos o destino me reserva?
Espero que você  seja bom pra ela, que a faça feliz como um dia me fez ser. Espero que você se torne o homem que um dia me disse que era. Quanto a mim? Eu vou pela estrada e ver no que toda essa loucura dará. Ah! e a casa amarela, espero  nunca buscar as respostas, nem suas, nem minhas, nem delas... mas se o destino quiser a gente se encontra lá, nessa ou em outra vida. Isso se em outras vida eu acreditar....

Quanto a mim?

Vou reconstruir os restos, é o que me resta.

Meu beijo,

Kaká.

Silêncio





Era agosto, não me pergunte qual dia, evito saber quando começa, torço logo para que chegue ao fim.
Quanto silencio cabe numa vida?
Eu me vestia de silêncio enquanto mecanicamente continuava. Não sei se vou, se fico. Um desespero dolorido, calado como todos outros desesperos de agosto.
Era fechar os meus olhos pra lembrar da mão na minha boca silenciando meu grito por causa de um monstro que me tocava. Era o silêncio do medo que hoje me faz duvidar da minha própria memória. Será que eu estou ficando louca? todas aquelas lembranças nojentas de quem tentou roubar minha inocência aos 7 anos de idade... me lembro de perguntar em silêncio onde tava tudo mundo que não o impediu? O choro dentro do banheiro esperando que alguém chegasse. Alguma falsa sensação de que eu não estivesse sozinha.
Será que ninguém nunca se perguntou porque sempre me isolei? nunca quis ninguém do meu lado?
Porque a minhas coisas estavam numa bolsa e de repente eu não estava mais na minha casa? Eu nunca voltei.
Ninguém nunca me perguntou se eu queria ir...
Eu nunca pude dizer que aquela carta não era minha, os gritos e ofensas calavam minha voz. Você nem me permitiu chorar.
Nunca tive chance de chorar quando podia, era preciso esperar pelo silêncio de todos dormindo. Era preciso esperar o escuro, a noite, pra deixar as minhas lágrimas falassem por mim.
Para que  servia aquela água que você me mandou banhar e não me secar? E aquelas velas acesas escondidas pelos cantos da casa, nos lugares altos onde eu não podia alcançar. Pra que serviam?
Porque aquele homem pediu a camisa do meu pai e pôs junto com as outras coisas no chão da sala? Eu tive tanto medo. Porque o cheiro entranho? porque as oferendas?
Porque meu pai nunca voltou?
Porque o sangue na sua testa?
Porque eu tive que ver todas essas coisas? E tantas outras que não me deixam em paz?
Porque eu nunca pude me despedir? Eu fui a única a não poder dizer nada...
Fui a única aos 4 anos que deitei no teu peito e não ouvi nada... Ainda acho que a culpa é do médico, vô.

Eu me vestia de silêncio, de medo, de dor. Nunca tive a liberdade da palavra. Só dizia o que podia ser dito. Nunca protestei, se eu protestasse era um castigo. Aceitava o que me era destinado, uma renuncia gritava no peito. Me sentia sem poder respirar.
De todas as pessoas que mais amei na vida, recebi mentiras, silêncio, rejeição e gritos. Despedidas caladas, nem uma palavra.
É a dor de agosto que dilacera meu peito, um grito abafado pelo meu silêncio imposto!
O que eu faço? Se nem direito a verdade eu tenho? A quem peço a permissão ao grito?
É como se eu só tivesse uma estrada a minha frente e vontade nenhuma de caminhar. Estrada essa que nem é minha. 
A vida, as coisas, vão me empurrando, me obrigando a ir. Eles riem de mim.
Eu dizia tudo isso a Mariana, ela era a única que me escutava e consolava, mas tinha dias que ela também não me dizia nada. Ficava no canto escuro do quarto, quase não posso ver seu rosto, só ouço sua respiração desajustada, como quem se esforça pra continuar. 
Mariana... Meu nome que foi usurpado de mim, me tirado depois de dias de vida. Será que eu teria o mesmo destino se continuasse a ser ela?
Eu gritei por socorro, me respondeu o silêncio dizendo onde era o meu lugar, embora eu nunca tenha saído dele.
Me sinto tão confusa quanto essas palavras, me sinto até indigna delas.
Meu Deus, vem e me diz o que faço? falta tão pouco tempo...

Me calo então como em todos os outros anos, como todos os dias, esperando que agosto termine e que ele não fique escondido, pronto para desaguar em outros meses, como ele faz sempre.

Sorte de quem tem direito ao grito, eu tenho direito ao silêncio, por isso me calo.


Kaká.




Todos os males do meu mundo


Achei estranho te escrever mais uma vez, ainda que milhares de coisas passassem pela minha cabeça nesses meses, não tive a menor vontade e coragem de lhe escrever. Até forcei uma coisa ou outra mas nada de verdadeiro vinha.
Vi sua foto e me perguntei que sentido fazia em ir. Me senti estranha pensando em ficar. As duvidas que pairam sobre a minha cabeça, já não me enlouquecem mais... todos os meus males eu sei de cor.

É engraçado como em todos os momentos, (como aquele caso absurdo que aconteceu semana passada, loucura demais pro meu gosto. Caso de desamor próprio. Precisava te contar, só você entenderia minha revolta), eu fiquei te contando mentalmente, te contando os detalhes, pedindo conselhos. Repassando histórias como os amigos fazem.
Mas nunca é você, sou sempre eu. O que tenho de você é um silêncio e várias entrelinhas. Silêncio esse em que eu desafio a todo instante e você debocha, insiste em me encontrar. Silêncio esse que eu sinceramente gosto e também debocho e percebo que existe um barulho no teu silêncio. Basta eu sumir pra você me chamar.
Tenho um certo receio de te conhecer de novo e quebrar meu encanto, minha projeção.
 Todos os conselhos, cuidados, conversas, são tão minhas que percebo o quanto eu sou importante pra mim. Já você é apenas um nome emprestado que a minha memória insiste em usar. São coisas minhas maquiadas em você. Usurpadas por mim e colocadas no teu nome. Mera projeção.
Porque você na verdade é algo que já desconheço, digo algo porque nem sei se posso te chamar de alguém. Me entende agora? Todo amor que lhe tenho é meu!
Olhando a sua foto nem te acho tão bonito, nem tão feio. Gosto mais de você na minha memória. Tuas linhas de expressão que eu mesma criei...
Na minha mente doentia te imagino perguntando baixo se o que eu sinto é ódio e te respondo com precisão que jamais poderia odiar aquele que me ensinou o melhor amor. O amor próprio.
De todos os males do meu mundo me amar pouco foi meu maior erro. Aprendi sobre quem eu sou e o que mereço. Não aceito menos por medo de ficar sozinha. No fundo aprendi a gostar e a debochar dessa vida séria.
Não pinto os meus tons gris! Me respeito! Coloco cor naquilo que merece, sem falsos amores. Sem baratear o amor porque tenho pressa. Não tenho pressa.
Meu mal não foi você, fui eu mesma e te agradeço por me fazer ver isso.
Se fico, se vou. Se pergunto ou se respondo. Faço por mim. Porque hoje, somente hoje, eu quero.
Se hoje estou cansada, me respeito sem cobrar. E se acordo melhor nada me segurar até desvendar terras minhas que podem me levar além.
De todos os meus males o único mal sou eu mesmo!
Sou meu próprio inimigo. Minha falta de amor por mim me impede de amar os outros. Muito obrigada, caro amigo. Por me fazer ver!
E por "nós" eu continuo e digo:

Me enfrento todos os dias na certeza de que a vida é mais que um compasso de espera e um amor barato, com prazo de validade vencido e falso!


Meu beijo