Não desperto medo!

"Sabe, eu acho que não sei fechar ciclos, colocar pontos finais. Comigo são sempre virgulas, aspas, reticências… eu vou gostando… eu vou cuidando, eu vou desculpando, eu vou superando, eu vou compreendendo, eu vou relevando, eu vou… e continuo indo, assim, desse jeito, sem virar páginas, sem colocar pontos…"

(Caio F. Abreu)





Era só mais uma sexta-feira, só mais uma semana difícil, eram só suas velhas mensagens que insistiam em chegar e mais uma conversa infundada sobre o que não foi, sobre o que podia ter sido e o quanto eu não te deixo ir e nem me deixo ir. Pra que a gente se mantém na estante?
Eu não desperto medo...

Fernando é meu amigo há muito tempo, eu diria de infância se eu tivesse conhecido quando mais nova, mas a sintonia é tão forte que, às vezes, parece que sempre esteve na minha vida.
Ele se dá melhor com Mariana, embora goste desse meu lado docemente insensato, acho que que queria que eu fosse como ela. Ele me olha tomar o suco de maracujá com os mesmos olhos de Mariana e me pergunta porque nunca coloco pontos finais em histórias tão saturadas. É, eu tava muito nervosa, estranha, dividida, queria minha paz. Paz que alguém roubou com o silêncio. Nem eu sei dizer porque não encerro ciclos... ando dividida por dois desejos tolos. É, isso mesmo, dividida, confusa por duas coisas que não valem a pena, dois extremos, dois tempos perdidos, dois sonhos desleais.
Fico me perguntando que horas eu acordo desse (in)conformismo que não consigo sair, que horas chega alguém que realmente vale a pena?!

A vida passa... sei que existem outras coisas na vida além de amor, só queria saber o que é ser amado. Não é drama, é um fato. Cansei de ser sozinha, cansei da superficialidade, do pouco, das frases feitas, do medo de outras pessoas, cansei do silêncio, mas qual o próximo passo agora? A gente cansa mas o que vem depois?
Eu não coloco o ponto final, você me vê desculpando, seguindo, acreditando e nunca sente medo que eu um dia possa partir.

Quero coisas simples e o mundo me acha complicada. E Fernando me pergunta o porque perdi tanto tempo com quem não devia e eu não sei dizer. Eu deveria ter amado Fernando como ele me amou, ele sim valia a pena, mas eu estava longe de ser a pessoa que ele precisava. eu estava longe do mundo na época.

Os silêncios me devoram com os dias e isso me rasga em pedaços... Sabe quando você sabe tudo o que quer? e tem tudo planejado, de repente a vida te dá uma rasteira levando tuas certezas pra longe, tão longe que você não consegue alcançar? e só te resta o silêncio.

E fico me perguntando o que eu andando perdendo com isso, olhando de longe as certezas indo embora, indo pra longe. É nessa solidão, nesse meu silêncio consentido que falo pela arte... a gente aprende a falar pelos dons e se apaixona por ele. Cuidado pra não cair nesse ciclo vicioso, disse Fernando. O vício de viver sozinha, sempre em busca.

Andando pergutando quando as perguntas acabam, quando as coisas finalmente se encaixam, quando tudo tem um fim.
Preciso aprender a dizer não, preciso aprender a por um fim e não esperar que a vida faça isso por mim.

A verdade é que amo dois vázios, duas ilusões, mas eles que não se iludam comigo, pareço parada sempre a espera, mas na verdade eu corro por ela. Não desvie os olhos de mim nem por um segundo porque um dia eu mudo e mostro o meu fim. Posso amar com tudo que tenho, mas quando esqueço tudo não passa de nada. Se você pensa que não te faço correr perigo cuidado comigo, os bichos mais perigosos são aqueles que não despertam medo.


Meu beijo,

Kaká.


Ps.: Fernando é o codinome de um amigo de verdade.