A casa amarela


Rio de Janeiro, 12 de setembro de 2013.

Sei que vai parecer estranho mas precisava escrever sobre a casa amarela. Já faz alguns anos e eu sonhava com ela. Aquela casa tão minha, hoje eu descubro que é tão sua... Como entender? Como sonhar com um lugar que nunca conhecemos? Como se sentir tão a vontade em um lugar estranho? Só sei dizer que quando entrei na tua rua quase ouvi os risos de crianças brincando, meus passos, os carros passando por aquela rua que de alguma maneira foi minha. Memórias de coisas que nunca vivi.
Queria te dizer também o quanto fui covarde. É isso mesmo, eu fui covarde sim, me voltei pra dentro do meu próprio orgulho, eu me fechei. Cobrei a mim suas respostas, violentei minha própria vontade, te marginalizei dentro de memórias que te queriam intactas. Eu quis voltar e não tive coragem, tive vergonha da minha vontade porque os outros me diziam que eu deveria ter. E quando cheguei, pesada com as malas, com meu próprio veneno escorrendo pelo meu sangue, eu sentia meu corpo doer. A porta do teu no fim da escada, a tua porta trancada lembrava como eu deveria ser, o que eu queria ser. Me lembrava o que fomos. Por dias fui meu tormento, me dilacerei... vi tua recordação pela casa, minha recordação guardada e de alguma maneira ela não foi esquecida.
Eu olhava a parede do quarto, aquela parede amarela que me separava do teu quarto e que me cortava ao meio e me fazia ser sã de novo. Talvez seja preciso aprender a enfrentar os próprios demônios pra se curar.  É... eu to tentando manter o controle, tomando meus remédios pra que aquela mão não me sufoque mais... Eu to tentando, eu juro.
Eu precisa pegar aquele avião de novo pra me encontrar, pra entender que não importa os motivos, não importam as respostas, o que realmente importa é a decisão que ficou. Do que adiantaria saber o que significa a casa amarela? O que mudaria saber porque nunca mais ouvi a tons da tua voz? não mudaria nada. Você seguiu seu caminho, escolheu outro corpo do teu lado que não é o meu. Escolheu outro abrigo, outro ponto seguro, outra paz... não importa o que sentiu ou o que sente. Eu não sou parte dos teus motivos, nem das tuas escolhas.
E quando você foi, deixei de ser paz 
pra virar meu tormento. 
Talvez eu volte, talvez não, mas vou voltar a ser paz. Vou esquecer um pouco as cores da tua luz. Sei que você me entenderia se lê-se, pena que minhas palavras tão confusas já não confundem você...
Pensei em todas as coisas loucas que já quis dizer e acho que a mais verdadeira delas é que pode ser que eu nunca te esqueça. Pode ser que eu continue lembrando de você a cada dia. Dando um sorriso bobo vendo seu sorriso, sentindo aquele ciúme e inveja de quem  pode te fazer feliz, eu não pude. Mas eu vou batalhar pra me curar, pra encontrar a minha paz, a paz de ser sozinha. Porque pra ser junto tem que ser são... Quem sabe eu encontre outra pessoa, quem sabe não, quem sabe quais caminhos o destino me reserva?
Espero que você  seja bom pra ela, que a faça feliz como um dia me fez ser. Espero que você se torne o homem que um dia me disse que era. Quanto a mim? Eu vou pela estrada e ver no que toda essa loucura dará. Ah! e a casa amarela, espero  nunca buscar as respostas, nem suas, nem minhas, nem delas... mas se o destino quiser a gente se encontra lá, nessa ou em outra vida. Isso se em outras vida eu acreditar....

Quanto a mim?

Vou reconstruir os restos, é o que me resta.

Meu beijo,

Kaká.