Ventos contrários

"...Não tinha mais um dia a perder, pois embora fosse muito cedo, começou a suspeitar que era também desesperadamente tarde demais."
(Caio F.)



Chegou setembro, pensei, como quem conta os dias desesperadamente, desejando que o fim do ano chegue pra ver se alguma esperança se renova, as antigas andam esgotadas, cansadas, se arrastando...
Eu fiquei sentada naquela calçada, parada, durante horas, pensando em como tudo poderia ter sido diferente se uma palavra sua fosse dita, se a palavra certa fosse dita. Mariana senta silenciosamente do meu lado olhando meu silêncio como quem entende minha dor, como se um dia já tivesse experimentado estar na mesma posição inerte que a minha.
É o que poderia ter sido que me divide em mil partes e eu fico aqui imaginando o que eu diria, o que eu faria, se essas partes fossem inteiras. São as milhares de ausências que me ferem, é o silêncio como resposta que me perturba....
Mariana e seus conselhos contrários a tudo o que sou parece como uma voz na consciencia, sabe aquela que fica ali martelando, eu a ouço mas ela sabe que na maioria das vezes ignoro.
Mariana é a única que não acredita que as coisas não acontecem porque ainda não é o tempo certo, ela acha que o que chega são oportunidades que nossas escolhas geram. Pra ela todo tempo é o certo se fizermos as escolhas certas e tempo é desculpa que usamos pra não escolher. Ela não está totalmente errada, mas alguma coisa em mim grita por essa coisa de tempo, algo pronto dentro de mim espera uma coisa que não tem nome, e que não tem data para chegar, mas essa coisa faria todo o sentido, mas não aparece nunca. Não tenho medo das escolhas, do risco, a vida é que ultimamente não me permite arriscar. Algumas coisas não dependem de mim, meu medo é o tempo que passa e o nada que fica preenchendo os ares com sua sequidão.
Sentada naquela calçada eu olhava os meus pedaços soltos no chão, como quem vê a vida escorrer e não consegue conter a correnteza.
Mariana grita:
"você não pode viver como quem junta os pedaços e só continua por continuar, vive a vida esperando uma coisa que nem você sabe o que é. Sempre sonhando com o impossível."

Ela tem razão.

Minha vida anda em compaço de espera e embora essa espera seja vázia é bom ter um amigo como você, que me dá a mão pra sair da calçada, que me sorri doce e bobo, despertando o doce que existe em mim, alguém que me decifra e é pra você que corro todas as vezes que não tenho as respostas, é pra você que corro para reaprender a sorrir.
Ele, assim como Mariana, sabe que ainda não existiu o momento em que de fato eu pudesse decidir, a vida veio me empurrando pra onde ela queria que eu fosse, soprando sempre os ventos contrários, mas o mesmo vento contrário que levou as respostas que eu queria me empurra pra você.
O bonito nisso tudo é que eu quero coisas tão simples, basta me ver melhor, me fazer tirar a casca. Poucas são as pessoas que me olham e me vêem de verdade, ainda bem que uma delas é você.
Mariana, não disse mais nenhuma palavra enquanto eu segurava sua mão, saindo ligeiramente do nada pro conforto do teu abraço, você que ,me tira dos braços frios da ilusão.
mas eu sei que ela volta, sempre volta. E eu continuo com as minhas esperas, continuo com os sonhos tolos, com essa força boba que me atrai aos braços frios da ilusão.

Dessa vez eu não forcei o destino, eu decidi não ir, acho que existe algum motivo pra eu ficar... Quero a plenitude de sonhos vivos, plenitude que infelizmente o passado não se encaixa, na verdade decidiu não se encaixar.
O que importa agora é o mundo que me espera, o mundo que me espera, os sonhos que me esperam quem sabe não é neles que te acho de novo e não te solto mais.

Todos os meus sorrisos e esperas pra você que me puxa pela mão e leva direto ao desconhecido. Você que vale a pena.

Meu beijo,


Kaká.