Outono

Era outono quando decidi que iria atrás de todas as respostas. Do lado de dentro do quarto Mariana me olhava escorada na porta, tentei ler os olhos dela mas não consegui. Pela primeira vez eles nao tinham nenhuma expressão, como quem cansa até de sentir, de mostrar o que sente. Ela me ouvia berrar que eu precisava ir, não importava mais se era ou não o momento. A vida me devia respostas e eu as queria.

Eu não contei, mas nesse verão muita coisa nasceu e assim como todas as outras morreu antes do outono chegar. Não sei dizer quando tudo começou, talvez no dia em que te vi pela primeira vez e desejei como há muito tempo nao acontecia. E de repente tudo foi se encaixando, fluindo. Na minha vida tudo sempre foi "de repente", no susto, na pressa. Mas quando se encaixa com perfeição e a minha loucura parece ter razão, eu desconfio de que logo vai terminar. Como uma profecia, como uma coisa pré determinada, pré destinada, quase uma obsessão do destino em me dizer nao. Não quis te odiar, não quis ter raiva e não tive. Me calei como todas as outras vezes e desejei você plenamente feliz, invejando no fundo quem vai poder te fazer.

O verão e seus amores, o outono e as despedidas, o inverno e a solidão, a primavera e a esperança....

Mariana inconformada, me dizia pra arrancar as asas, nunca tinha visto tanta raiva nela.

Ela me dizia: “começa a pensar que nem todo mundo erra por sentir, por se entregar, alguns não sentem, alguns brincam, alguns mentem, ferem, te pisam e você sorri pra eles. Eu sei que você sangra mas sabe se curar. Você não tem medo do perigo e se atira. E Dane-se a vida se ela não for como você quer. E você olhou pra um e se apaixonou, virou para o outro, idêntico, como se o primeiro se olhasse num espelho e vai ao encontro ignorando o sinais que a vida te deu. É esse teu inconformismo que te cega.”

Mariana sempre foi meu lado sensato, talvez esse meu lado estivesse cansado de mim, das minhas loucuras exaustivas. No fundo, eu sempre deixo amor antes de ser. Eu decidi amar. Eu quis quando sabia que não podia ter. Talvez tenha cometido o mesmo erro e talvez seja isso que me faz ter coragem de ir até onde eu devo. Não sou covarde, não quero me esconder de toda a verdade que eu mereço conhecer.

Abracei Mariana, dei um sorriso doce e triste e lhe disse: “às vezes, mexer na ferida é o primeiro passo pra ser feliz, senao curar vira cancer. Pra ter o novo eu preciso me despedir do velho. É preciso coragem pra arriscar num futuro incerto. É preciso coragem pra lutar pelo que acredito. Existe algo em mim que grita por isso e é atrás disso que vou. Certo ou errado, ja foi feita a escolha.“

Mariana, sorriu no meio do choro, e me ajudou a fazer uma musica pro outro lado do espelho. Sei que você não entende, mas são dois. Eu amei a primeira metade mais que todas as coisas e veio a outra metade, veio sorrindo, levando pra bem longe o meu vázio. Foi quando percebi que as duas metades eram a imagem refletida um do outro. tão idênticos que já não sei onde começa um e onde termina o outro. E fica a pergunta gritando no peito se a gente se apaixona por uma outra metade, é porque deixou de amar a primeira? Mas e quando ambos são tão parecidos que já não sei mais quem é quem? Não tenho essas respostas, mas por elas eu arriscaria. Só por essas duas metades (metades tão (des)iguais) que eu arriscaria, arrisco e volto a arriscar.

Te transformo em poesia, porque vale a pena te eternizar em verso!



ps:. Porque é preciso ter coragem pra arriscar, pra ser feliz. Pra você que me lê, tudo pode parecer confuso, mas pra mim tudo é muito claro.