Restos de agosto


Restos. Era nisso que eu pensava dia após dia. Restos que deixei espalhados pela casa, pela minha vida.
Era suja a maneira como eu ainda te mantinha embora eu, cega, nunca tive coragem de jogar fora, me alimentei com os restos deixados por você. Deixei tuas pequenas lembranças, teus restos, escondidos pelos cantos. Uma foto, uma musica, uma palavra.
Eu despejei muita coisa em você, grandes foram os nossos sonhos pequenas as realizações. Bonitas eram as tuas promessas tão cheias de mentiras. Não quero dizer o que já foi dito, eu tô cansada, chegou uma hora que teus restos misturados aos meus fediam. Eu nem sabia por onde começar a limpar. O que fazer com tanta bagunça.
Meses atrás eu te diria muitas coisas, hoje mais do que nunca eu quero o silêncio, quero a paz.
Você se fez invisível, intocável, insosso e eu de forma doentia te transformar em fantasia pra não te deixar morrer.
Vi tua foto distorcida, eu ainda te reconheceria de longe e por um segundo e com muito pesar eu pensei que a história podia ser diferente, entendo que não as coisas são como elas são.
Vou aprender a te desconstruir, me desenlouquecer, devolver minha mente e história sã. Vou jogar teus restos fora ainda que nesse lixo partes necrosadas minhas tenham que ir embora.
Tua distância é minha faca de dois gumes, não sei se agradeço a Deus ou se me desespero. Tudo que sangra um dia cicatriza e tudo que cicatriza com o tempo vira idiotice no meio de uma história.

Que os restos de agosto te levem pro lugar que você pertence, o esgoto do meu passado. Não te odeio, não te desprezo, não tem nojo, apenas aversão aos fatos. A abstinência leva a cura   e eu estou me abstendo de tudo que tem o veneno, de toda a doença que deixar restos de passados infelizes em nosso dia-a-dia.
Teus restos já não são mais meus restos, o passado não é mais presente e eu não pertenço em nada a você e nem você.
Faço do teu silêncio um presente eterno. Sem palavras, sem atos, sem viagens, sem lágrimas e fim.



Ps:. Porque agosto é isso, passado trazendo de volta aquilo que se quer enterrar. Eu vou enterrar todos os dias. E fim.

Sem beijos, até que morra agosto.

Kaká



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